A distância entre Atlanta e Salvador

Isso tudo, antes de mais nada, é um desabafo e também um lembrete pra mim mesmo de que as coisas correm na velocidade que tem que correr.

Josué Dias
3 min readJul 15, 2018

Em momentos não sóbrios de nossas vidas, nossos cérebros parece funcionar de um jeito bem diferente do seu cotidiano. E ontem, eu consegui fazer uma ligação que eu ainda não tinha feito. E eu acho que eu finalmente entendi porque eu me identifico tanto com o Earn de Atlanta.

Um pouco de contexto, Atlanta é a série escrita e estrelada pelo Donald Glover que algumas pessoas acham que ele também é o Childish Gambino (coisa que eu não acredito) que conta a história de um homem negro norte-americano nos seus 20 e tantos anos no corre para sobreviver tentando criar uma filha, trabalhar como a porra e não ter grana. Ou seja, a história de um monte de gente que conhecemos.

Tenho acompanhado a série desde que saiu os rumores de que ela estava em desenvolvimento e durante a primeira temporada eu sempre assistia aos episódios no dia seguinte ao seu lançamento. Esse ano, saiu a segunda temporada e eu resolvi rever a primeira temporada pra ter tudo fresquinho na cabeça. Só que eu não tava preparado pra ver na série coisas que eu estava vivendo naquele momento e na hora bateu a bad™️.

O episódio em questão, Earn está conversando com o colega de trabalho sobre o quanto ele tá fudido de grana e que não dá muito pra viver daquela forma. No momento que eu assisti aquele episódio eu tava pensando sobre o mesmo, e que ficava tentando procurar saídas pra essa situação e me tornava perdido com isso. No meio dessa situação, eu comecei a ficar um pouco agoniado com a série e resolvi dar um tempo daquilo ali até eu ficar mais de boas com esse meu sentimento.

Ontem conversando com meu irmão sobre a série, eu comecei a falar do Earn e lembrei de uma coisa que sempre acontece com ele durante a série é que as pessoas falam o quanto ele está se desperdiçando, porque ele é um cara inteligente e porque ele largou a faculdade. E foi aí que eu me conectei de novo com o Earn e entendi porque somos iguais.

Eu passo por algo parecido: eu estou tentando me formar há mais de 7 anos. O tempo todo as pessoas vivem a me perguntar quando eu vou me formar, e, apesar de não dizerem, devem se perguntar como eu posso passar tanto tempo na faculdade já que eu sou inteligente também. E isso é uma merda. Parece que a única régua pra se medir uma pessoa é seu desempenho acadêmico nessa corrida pra se tornar “alguém”. As pessoas cobram muito dele, mas nunca param pra se perguntar se existe algum motivo pra ele ter largado tudo. Ninguém se pergunta se aquele é mesmo o lugar do Earn (ou mesmo o meu).

Earn não está contido na vida acadêmica. Essa não é a única dimensão dele. A vida acadêmica é uma das faces que compõe o ser de Earn, sua inteligência não pode ser medida pelo seu desempenho acadêmico, sua ética de trabalho não é refletida nas notas da faculdade. E é muito ruim viver nesse meio de ser talentoso demais, ser diverso e múltiplo demais pra uma só dimensão.

E eu digo isso porque eu me sinto assim. Eu tenho confiança no meu trabalho, a faculdade não mede a qualidade do mesmo, minhas notas não deveriam definir quem eu sou. Do meu corre, quem sabe sou eu. E é muito frustrante o quanto as pessoas não conseguem perceber esses tempos diferentes para realizarmos as coisas. Essa cobrança pra estar sempre na frente da corrida da vida é esmagadora, porque não parece o suficiente as cobranças que impomos a nós mesmos.

No fim de tudo, Earn segue no seu corre. Assim como eu. Porque tentamos entender que a nossa corrida não é a mesma que de todo mundo. Nossos objetivos são diferentes disso tudo. E a gente vai seguindo, apesar de bater de frente com essas pedras no caminho.

--

--

Josué Dias

Não é pra levar nada que tá escrito aqui a sério, mas se quiser pode.