J Cole e as histórias não-contadas

Texto escrito no dia 1º de Maio de 2017

Josué Dias
3 min readMay 3, 2017

Depois de ver o doc do 4 Your Eyez Only do J. Cole da HBO (tem aqui no grupo o link pro youtube, mas sem legenda) eu meio que revisitei o que eu senti quando ouvi o álbum logo quando lançou (e ainda ouço quase toda semana). Vai ser textão mesmo e pode ser que as coisas não façam tanto sentido assim, porque eu tô falando muito do que eu sinto e senti enquanto via esse doc.

De antemão: eu entendo porque as pessoas não gostam desse álbum. Pode ser que esperassem outra coisa, quem sabe uma continuação do 2014 Forest Hills Drive. Mas a vida tem dessas. E ainda bem que a vida tem dessas.

O 4 Your Eyez Only é um álbum que conta uma história de um cara que era envolvido com tráfico, mas no meio do caminho, ele teve uma filha e ele resolve mudar de vida, mas não é nada fácil sair do tráfico assim. E esse álbum é o próprio Jermaine contando pra filha desse cara a história dele. Não sei se esse cara realmente existiu ou se é uma história criada pelo próprio Cole, independente é uma puta história.

(Importante: essa não é uma sacada minha, é uma interpretação tirada de um artigo do Genius sobre esse álbum: https://genius.com/a/here-s-the-deeper-meaning-behind-j-cole-s-new-album-4-your-eyez-only)

É muito incrível ouvir esse álbum e entender o que ele quer dizer, seja ele assumindo o papel desse cara ou sendo o próprio Cole falando na hora. Esse álbum conta a história de muita gente: ela não é uma história só sobre o amigo do J Cole. Também é uma história do próprio Cole e dessa menina que não tem mais o pai.

Histórias como essa precisam ser contadas, e ainda mais de uma forma tão sensível como é esse álbum. Contar dos sentimentos, das mudanças e trazer mensagens positivas, ainda que cheias de pesar (como é a história do álbum), falar de dobrar roupas e ser feliz porque está vivo fazendo isso! E sem falar da experimentação sonora, trazendo outros ambientes, outros instrumentos e até tempos musicais poucos utilizados pelo gênero, mas acredito que se encaixa perfeito com o que está sendo dito.

A gente vive numa sociedade que é uma verdadeira máquina de moer gente. Ainda mais se você teve o “infortúnio” de nascer com a pele preta. Trayvonns, Sandras, Cláudias, Amarildos, Phillandos, Emmets e tantos outros que tiveram suas histórias interrompidas, distorcidas e contadas de forma que tornassem eles indignos de viver. Assistam à 13ª Emenda (documentário da Netflix), Eu Não Sou Seu Negro, O Caso do O.J. Simpson (tem na Netflix também) e muitos outros, eles explicam isso mostrando fatos, fotos e documentos. Essas histórias importam, porque elas não se construíram sozinhas, muita água correu pra chegar aonde chegou e acontecer o que aconteceu a eles.

No final do documentário de 4 Your Eyez Only tem a história de uma senhora nos seus 50+ anos, que está indo trabalhar e se você a visse na rua nem conseguiria imaginar o que ela passou na sua vida, tendo que enterrar 2 filhos que foram tirados dela pela violência. E ela firme e forte continuando a viver.

Ouvir esse álbum me faz pensar nessas histórias e do quanto a gente tá sempre num corre insano e não pensa no que as pessoas em nossa volta sentem, e nem pensamos nos nossos próprios sentimentos, ou de aproveitar os momentos pequenos da vida, de estar vivo.

Esse não é um texto querendo convencer ninguém a ouvir e gostar do álbum, vai de cada um, é um texto expondo o que eu tirei de significativo nesse álbum que é puro sentimento e muito pessoal, tanto pra mim, quanto pro Cole.

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Josué Dias

Não é pra levar nada que tá escrito aqui a sério, mas se quiser pode.